quarta-feira, 24 de dezembro de 2008
Contos.3
24 de Dezembro de 2008
ainda lhe suavam
as mãos de subir ofegante a escada do prédio
quando descobriu que um grande gato amarelo
tinha, sorrateiro, entrado pela porta a cozinha
Travou-se ali,
então,
uma longa conversa entre
platão e o gato Platão
, assustado, pedia ao animal
que abandonasse a casa
o animal pedia a platão estadia
Levaram uns quinze minutos nisto
até que pelo cansaço o gato desistiu
e saiu
, agora rapidamente,
pela frincha aberta por onde tinha entrado
Á tarde
platão tentou dormir
mas aqueles felinos olhos cinzentos assombravam-lhe
as horas de descanso – afinal podia ter ficado
com ele, ao menos esta noite
Voltou à porta
podia ser que sócrates ainda por lá estivesse
mas não, nem um rasto nas escadas traseiras
Voltado à cama
platão sentiu um frio de remorso
Acendeu a luz da mesa-de-cabeceira
e pôs-se a escrever
contando o encontro que tinha desprezado
Finalmente um ser tinha vindo ao seu encontro
e ele por impulso recusou-o
Porquê?
Porquê
Desenhou um gato no caderno
e pôs-lhe cores e patas grandes
Desolado
, numa última linha,
escreveu:
«hoje, nesta minha casa encontrei-me com sócrates
com medo afugentei-o Nada a fazer»
terça-feira, 23 de dezembro de 2008
Centro Mário Dionísio - Ano Novo Vida Nova

domingo, 21 de dezembro de 2008
Contos.2
Platão deitava-se
Insone
Olhos postos no tecto
pelo corpo só os indispensáveis movimentos À
sua direita uma telefonia
e cigarros acumulados num mínimo cinzeiro
Platão ficava noites seguidas assim:
a ouvir, concentrado, os ruídos da rua
: homens do lixo
: cães ladrando ao longe
: um ou outro gato rosnando em briga
Por vezes
, uma vizinha gritava com o marido
Não
Para platão as noites nunca eram iguais
simplesmente nunca tinha sido ensinado a adormecer
No telheiro da janela
quando uma família de pombos
despertava, platão sabia
que chegara o momento de se erguer
apanhado na emboscada de um sol que nasce
de uma lua que se deixa apagar
Já levantado seguia para mais um dia
Dias de coração demasiado lento
preso à vontade de à noite voltar
e
insone
se deitar
sábado, 20 de dezembro de 2008
Contos.1
quando metia a chave à porta
e recebia no rosto a
chuva
da escuridão de um vento de espaço vazio
Platão sentia uma tontura
vinda dos pés até lhe tomar a cabeça
(assim como na guerra o inimigo toma em prisão
o amigo desconhecido)
Com medo
Sem coragem
platão avançava Primeiro
com o pé esquerdo, depois,
arrastando a perna
, o direito, fazendo bater
os
calcanhares Ficava em esquadro já dentro do apartamento
Fechada a porta demorava-se
uns
segundos no escuro Afinal era a magia
possível para os seus dias
Então acendia a vela
, via iluminar-se o corredor
e voltava a si – só –
e com cuidado pendurava o sobretudo
num cabide idoso junto a um relógio de pêndulo
quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
terça-feira, 9 de dezembro de 2008
poemas dispersos
presta atenção aos teus passos
sente como as mãos te podem salvar
olha uma última vez o sol no seu meridiano
escolhe uma planta que te acompanhe
Escreve
, Escreve muito
– Escreve tanto
...........quanto
................puderes
e depois dorme um silêncio profundo
acolhedor e maternal
sentindo a terra a percorrer-te a pele
quando acordares verás a lua a ocidente
crescente e alva Abraça-a
se o fizeres repararás como ela é pequena
e carente: um corpo inanimado reflectindo a luz
Uma Vez Mais Presta Atenção Aos Teus Passos
observa como há tanto tempo caminhas em círculo
dá agora um passo ao lado na tua marcha
saído do redondo caminhar Abre a porta
para outro teu encantar
Nada há a perder Nada para encontrar
só Luz e
, talvez, por sorte, por desígnio
um pássaro para te guiar
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
poemas dispersos
uma súbita face
Branca
no reflexo de um espelho oval
– eis a minha aparência
depois
da invocação Proibida –
: a Boca distorcida – Saliva escura
: Olhos semi-
........-abertos
, Mãos crispadas: um punhal!
Com um único sopro cerrei
três velas negras
. já na Treva profunda recitei:
«venite»
«lux»
«venite»
«lux»
«venite»
«lux»
e a Noite morreu em lua nova
quinta-feira, 27 de novembro de 2008
poemas dispersos
27 de novembro de 2008
doce, Sentado
sobre A pedra
da cor dos goivos
e dos colares de cleópatra, Romeu
ouviu o Tiro As pernas
tremeram
como ossos desprendendo-
-se da carne
Sem chegar a sentir dor ou ferida
aberta. asfixiado. caiu
Romeu
no trono
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
poemas dispersos
primeiro o sol depois
devagar
as flores – as aves – o canto
sobre a mesa a caneta imóvel
o papel sem curvas nem marcas
? o sol
sim
a percorrer-me os olhos e a cegá-los
: ver como um cego
: ouvir como um cego
: tocar como um cego
sobre a mesa a caneta imóvel e
uma romã aberta
uma seiva púrpura – o sol?
sim! que fazia reflectir os frutos
juntos na forma de coração
único de uma romã
ao fim de um tempo um fio-de-dor
percorreu-me os cabelos
, a testa, os polegares –
aqui estou vivo-inerte a percorrer campos
numa estreita ala de convento
terça-feira, 18 de novembro de 2008

quinta-feira, 6 de novembro de 2008
poemas dispersos
a toda a largura da mesa
as flores e o inverno que elas trazem
. chove
há em mim um zumbido ansioso
que me afasta da janela
. recolho-me
enfrento as cores e as folhas das flores
e tenho medo
da largura da mesa
posso não voltar a ouvir flores
nem ver zumbidos
só sei que chove
e nesta minha cadeira nada muda
– acaba o dia não mais que isso –
imagino a meu lado esta tarde
uma grande lareira acesa onde dormisse
quinta-feira, 30 de outubro de 2008
poemas dispersos
margem esquerda
vê-se o mar – torres com bandeiras
nos dedos contorcem-se teclas de piano
vindas de fora num desencantamento
de almas: margem direita
estreitos veios de navegação cega
mar e rio deambulando entre
as margens quando um caixão se levanta
trazendo dentro corpos de pedras
e à noite
pescadores musicais pescam ao som
desenfreado das âncoras soando
guitarras no extremo das canas
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
sábado, 25 de outubro de 2008
poemas dispersos
ele viu o Rio e
os peixes
contorcendo-se em curvas
estreitas de Terra
Pousou os cotovelos num
imaginado colo maternal
: Ele mesmo um peixe atormentado
de marés fluviais....ou
talvez
uma rocha em sólida e precisa rota
domingo, 12 de outubro de 2008
poemas dispersos
caiu aos meus pés
a
âncora de um mínimo
navio onde marinheiros nus
rogavam pela salvação
da terra e
imploravam
na aspereza do convés
a devolução ao mar
às águas que tinham conhecido
Marinheiros nus implorando
aos meus pés
: solo indiano sem história –
a minha coragem
nada fiz – corpo inerte –
com o meu fato negro
apenas deixei cair a espada
sexta-feira, 10 de outubro de 2008
poemas dispersos
da terra para o fogo
da sepultura para a luz
da treva para o globo solar
.........deus viu
e viu que era boa
a obra criada
levantou-se a criatura
e andou Nas
ruas foi visto e muito amado
até que voou e já sem
força nos membros caiu
: vasto areal de cidades
........deus viu
e viu que era boa
a obra A cova trabalhada
terça-feira, 7 de outubro de 2008
sexta-feira, 3 de outubro de 2008
poemas dispersos
onde nasce a tua fonte?
Cava Cava Cava
um lençol de água
e sobre a tua capa
desliza e passa
o caracol sentado
que te esmaga
Vê depois os rios (que também são belos)
E as flores (que não são menos)
imagina pastores cheios de flautas
Cava Cava Cava
e sobre a Terra serás asa
quinta-feira, 2 de outubro de 2008
poemas dispersos
olhos vermelhos Água
quente
de novo aquela Água
quente
: mãos coladas ao cabelo
(um cofre numa ilha)
olhos vermelhos engolindo letras
; palavras muito usadas
e a noite aberta aos
sons meticulosos dos cigarros
Num lago de olhos vermelhos
aquela Água quente
como um cofre solitário
ou dedos colados ao rosto
segunda-feira, 22 de setembro de 2008
poemas dispersos
e desci
ouvindo vozes Comentários ferozes
e janelas a abrirem-se
Os meus pés enrolaram-se
nas mãos
e por dentro das mãos
um calor externo
um lâmpada Houve
quem dissesse que eram
o
s
meus gritos
vindos
de uma garganta
ausente Ardente
Na retorta de deus: évora o athanor
quinta-feira, 18 de setembro de 2008
poemas dispersos
nem olhos nem boca
nem fogo nem sopro
nem terra nem lágrima
nem ouro
nem poema nem cristo
nem poeta nem pele
nem sal nem marés –
no coração do sutra perfeito
só o amor rarefeito
quarta-feira, 17 de setembro de 2008
poemas dispersos
resta-nos abrir a porta
festejar os obreiros do céu
sentir o corpo
a
de-
com-
pôr-se
como um vento árabe
e olhar a derrocada dos dias
como se os dias pudessem ser olhados
e os olhos capazes
de olhar
terça-feira, 16 de setembro de 2008
poemas dispersos
e as chuvas não lavam
as flores e os frutos entre os
muros
da cidade
na lonjura das estrelas
o abrigo das vozes
maternais
expandindo-se sobre os filhos
areias devastadoras e nelas as
pegadas salientes
dos santos e iluminados
pregadores
as chuvas não respondem
aos chamados dos feiticeiros animais
e num grito último
fogem para a inexistente floresta
os gatos de um antiquíssimo egipto
domingo, 7 de setembro de 2008
poemas dispersos
talvez fosse uma gaivota…
… era uma gaivota fazendo
movimentos de gato por cima
da
cama
num sono curto o mar
a recordação dos comboios
acendida a luz
nada – paredes lisas si –
lêncio
sem sono
pela janela
um grito felino de gaivota
domingo, 17 de agosto de 2008
poemas dispersos
curvado a esta luz
oiço e sinto
gotas de relento caindo
lá longe Nas cavernas
dos suplícios Sei
do que são feitas essas gotas
mas calo
não caberia a mim
– profeta cego para o divino –
levantar-me e correr e salvar do sacrifício
aqueles que pelo choro
da escrita nessa torre se encontram
a Correntados
estou frio
miraculosamente, velho de menos
andar é para mim um esforço maior do que cair
Com a graça de deus
(depois destas linhas terminadas e
apoiado numa cana)
acenarei em cruz ao arcanjo s. miguel
lerei o jornal – isto já no café –
e toda a memória do que ainda há momentos tinha
invocado se dissipará em leite e pão
praia das maçãs, agosto de 2008
quinta-feira, 14 de agosto de 2008
poemas dispersos
ainda trago um fio de sangue na roupa
, limões num saco Ligeiro corte
na podagem Acreditei que a luz do sol
me ajudaria a enxergar os veios dos ramos
o local certo da incisão
Ao contrário
ofuscou-me o grito do astro
e caí com letra no papel
já no chão vi um gato no céu
em forma de nuvem
e na terra muitos espinhos de rosa que
apesar de cravados
não me magoaram Conseguia levantar-me
estava bem
mas desejei estar melhor e ali fiquei
caído
ferido
mas deslumbrado com um céu imenso
escarlate de nuvens azuis e limões espalhados
ao redor da cabeça – amarelos
um amarelo definitivo
só Agora me ergui e depois de ter
recolhido os limões regresso a casa
vejo-me ao espelho estou mais leve
a cara cortada de chicote
fez-me despertar os olhos
o sangue caligrafou um olho na camisa
tudo está certo e maravilhosamente perfeito
praia das maças, agosto de 2008-09-14
segunda-feira, 4 de agosto de 2008
poemas dispersos
dE noite ainda se ouvia o mar
ou talvez fossem os pinheiros
na memória
ossoS
:um crânio com um esplêndido orifício
durante o sono surgiram imagens
de areia e sapatos
junto Às flores a infante sepultura
do teu nome
praia das maçãs, agosto de 2008
sexta-feira, 1 de agosto de 2008
poemas dispersos
depois de uma palavra
um gesto subtil de uma suposta
carícia
nem rosas
se revelaram
na noite de chuva
nada de verdadeiro
já na rua procuro a tabacaria
o tabaco desfazendo-se em fumo
acalma as cores agressivas
à volta tudo falso – salva-se o silêncio:
o cansaço das horas seguintes
ouvindo poemas
– na noite sonho confuso
com um barco sem tripulação
implacável
navegando
sábado, 26 de julho de 2008
poemas dispersos
quase agosto
um dia de chuva
bastou
: dois corvos pousaram tranquilos
sobre as torres da fábrica
dois-grandes-corvos-quase-violeta
os operários saíram num ensejo
sonhador de os ver – ¿há
quantas décadas os corvos
não se aproximavam da cidade?
quase meio-dia… à hora certa
as sirenes gritaram
marcando a pausa para o almoço
mas a fábrica já estava vazia
no terreiro do estacionamento
três centenas de operários
tinham antecipado a pausa
para saudarem dois
corvos quase violeta
sexta-feira, 18 de julho de 2008
poemas dispersos
lia romances – extensos romances
lia
lia romances – extensos romances
em fundo azul
letras verticais e
oblíquas frases em erupção
depois dormia
deixando acesa uma suave luz amarela
e um gato a cobrir-lhe os pés
nos sonhos lia
relembrava
os romances
transformando-os em versos
delicados momentos de voo
no centro da noite
lia
lia romances – extensos romances
domingo, 6 de julho de 2008
poemas dispersos
viu-se de relâmpago e era negra
e como se uma chave fosse
uma chave foi
abrindo a porta do grande
palácio das buganvílias e dos loendros
lá dentro
sobre um pavimento de mosaicos
brancos e negros
duas colunas
suportavam sem esforço um globo celeste
e outro terrestre
duas esferas romãs
abertas e expostas à sua multitude
era uma espada de ferro quente
ondulada
: flamejante – a invocadora de todos os sortilégios
entre colunas –
onde reinava o silêncio
,soprou o verbo: «eis a minha espada, aqui
não haverá espaço para a defesa porque
não haverá espaço para o ataque»
nisto uma bicéfala águia branca pousou
sobre a coroa do trono
e no tecto do palácio se escreveu
num ouro muito azul: «ordo ab chao»
poemas dispersos
pelas ruas caminham ainda
Gaivotas
e outros animais de nome desconhecidos:
¿gente perdida? –
numa montra um vestido Branco
perfeito – luminoso
pelas ruas caminham ainda
Flores
silvestres odores ignorados
jardins sem rosto
lagos sem rosto
paisagens distorcidas
pelas ruas caminha ainda
um vestido Branco
perfeito – luminoso
poemas dispersos
um dia – se me tornar mesmo
peregrino – encontrarei as tuas pegadas
junto ao rio que escolheste
e aí ficarei a contemplá-las
parado
ouvindo as águas
respirando o oxigénio das ár
vores gigantes
:os corvos
domingo, 22 de junho de 2008
poemas dispersos
procurem nas montanhas as pegadas
dos cavalos brancos e humanos
do grande apocalipse
procurem no deserto as águas frescas
dos oceanos que ascenderam aos céus
procurem as pedras preciosas
ocultas no centro da terra –
e quando estiverem deslumbrados
sintam-se perdidos e desiludidos
pois tudo o que encontraram mais
não foi que desgosto e iludida alegria
terça-feira, 10 de junho de 2008
poemas dispersos
mar e príncipes-perfeitos
a falésia – pináculo de catedral
ouvem-se as vozes do coro
Requiem
para sempre um Requiem
de ondas e cardos
:a leve brisa a que chamam primavera
quando É primavera
ou outono quando É outono
mar e princesas descalças
no pinhal do outeiro
muda-se a roupa ergue-se a voz
a mesma que ainda agora se ouvia
lá atrás
no coro da igreja nua
e a toda a volta a cauda de uma Sereia
sábado, 7 de junho de 2008
poemas dispersos
vinham e falavam crioulo
manchavam a terra
e sabiam enterrado o esposo
havia crianças e laços na cabeça
prematuras esperanças
e pelo meio um louco
deitavam cartas e olhos verdes
gritavam um hino vermelho
vomitando a gaguez
e de cada vez é de vez
vêm
às dúzias num comboio
há crianças uma a uma
de-cada-vez
deitam cartas e olhos verdes
vomitando a palidez
na carruagem cantam um hino
vermelho para dentro de um aparelho
português
quinta-feira, 5 de junho de 2008
poemas dispersos
numa minúscula árvore brotou
um fonema
:o tema e por extenso o fruto
nos ramos viram-se pássaros
e uivos caíram plumas e a
çu-ce-nas – primeiro acto
pacto o peixe o ovo e qualquer coisa de lácteo
numa minúscula árvore acesa
derramaram-se os versos do último poema
verteram-se as marés as areias
:o pólo
norte
desfigurado por antenas
terça-feira, 27 de maio de 2008
poemas dispersos
encontrei-me contigo num jardim
de verão onde chovia
vi-te primeiro estavas leve
abençoada e clara
viste-me a seguir cor-de-rosa
como uma flor japonesa
de antiquíssima lembrança
rezámos junto ao lago
concentrados nos peixes e nas folhas
rezámos a tudo a quanto um ser pode rezar
até que um de nós
já não me lembro qual
tirou o revólver e disparou sobre o outro
caímos de semblante sereno sobre a terra
deixando que os pássaros nos cantassem
é bom lembrar a nossa morte
sobretudo porque nesse dia estávamos
lá os dois e aquele tiro nos eternizou
foi a primeira vez que sorrimos
com a calma e a tranquilidade
dos grandes poetas
segunda-feira, 26 de maio de 2008
poemas dispersos
fechou-se o palco com um actor lá dentro
fecharam-se as cadeiras
as luzes
os alfabéticos-pirilampos
baixou o lustre com os grandes e os
pequenos cristais de quartzo
correu a cortina de ferro
fechou-se o palco com um actor lá dentro
nesta casca de ovo o actor
respirou
enfim
por fim
até ao fim
e silenciou-se numa espécie de chão
e madeira
lembro assim o actor que foste
e as horas que passo sem ti
hoje
dia em que também estou fechado no ovo
respiro o fumo que deixaste do último cigarro
e é de um corpo triste e derrotado
que faço a minha vitória
domingo, 25 de maio de 2008
poemas dispersos
na mansarda em frente ao café
há rosas-de-santa-teresinha
no campo
aqui mesmo ao lado
os pastos ficam vermelhos de flores
e outros pequenos milagres
ver a beleza destes dias é ver simplesmente
é tornar os olhos mais lentos
arrastar as palavras
descobrir na retorta do alquimista
o sucesso que elevará o chumbo a ouro
amanhã choverá outra vez
até talvez já esta noite
e a beleza solsticial esconder-se-á
como numa concha se escondem anéis
e
sem palavras
os pastos voltarão a ficar verdes
só os alquimistas continuarão o labor
no seio do athanor, as rosas
sábado, 24 de maio de 2008
poemas dispersos
a chuva que cai não é chuva que cai
há mastros que se inclinam
e escotilhas e abelhas a toda a roda
a vegetação adensa-se aqui e ali
e os poetas que cantam isto
também não são poetas porque se fossem poetas
só olhariam a chuva que cai
os mastros que se inclinam e as escotilhas
por onde as abelhas querem passar
da mesma maneira estes dias mais longos
de uma primavera húmida e sem vento
não são os dias longos de uma primavera
húmida e sem vento
nem o amor que se sente é amor
se fosse amor era só amor e não
um amor que se sente
tudo é uma réplica da verdadeira condição
de se ser natural e poeta no veio
longo e lúcido – estranhamente lúcido – de uma
rocha que uma vez escalada nos abriria
a porta das cavernas douradas
onde na realidade nunca fomos
quarta-feira, 21 de maio de 2008
poemas dispersos
o vulcão sopra mesmo ali junto à fonte
é um vulcão simples de asas justas
e cauda de noiva
quando estremece toda a terra vibra
e ao vibrar encontra
mais uma pedra oculta dos antigos magos
depois há os petroleiros e as suas grossas
amarras os frutos secos da pastelaria
a mulher gorda de outrora que os engolia
em habilidades de circo e de poema
a fonte essa não se mexe
é demasiado humana para se dar a tais luxos
deita água quando é preciso
e no repuxo máximo até o vulcão parece pequeno
de santa-apolónia partem os trens para frança
e para espanha e os gritos das aves parece tão
mais vivo quanto mais alto o voo
e a vontade de pescar
o vulcão não é nada neste bairro
porque o estremecimento que provoca com
as suas erupções não corrompem o andar de ninguém
nem ninguém se preocupa com pedras ocultas
tudo ali é o que parece menos o vulcão
que sendo um vulcão nem se consegue fazer comparar
à descarga de um navio ou à chuva dos dias negros
segunda-feira, 19 de maio de 2008
poemas dispersos
roma paris berlim trieste moscovo
toda a ásia desertos de areia
desertos de gente
céus encobertos – rios encobertos
nevoeiros rasteiros cães nadando
nas enxurradas d’água
«cães de barcelona» - o meu anel de lis
no fundo de um lago
os sinos e os monges
roma paris trieste moscovo
comboios de gente – lisboa
nove e quarenta e cinco da manhã
passa pesado o metropolitano
rua do arsenal – tejo
rua do arsenal – armas pela república num dia
rua do arsenal – armas por abril noutro
são dez horas da manhã
o sol fez-se redondo e chuvoso
são dez e três – centro da cidade – birmânia
domingo, 18 de maio de 2008
poemas dispersos
procurei que as coisas acontecessem
procurei no céu olhares misteriosos
e na terra o sabor sereno dos diospiros
plantei algumas árvores
e desenhei e escrevi e pintei
terá sido em vão porque não se procura
nada nos céus nem na terra
porque de nada vale o sabor de um fruto
ou um desenho um vocábulo uma cor
ainda assim
quando não esperava
encontrei uma pequena esfera no chão
desconheço o seu uso mas trago-a na mão
sábado, 17 de maio de 2008
poemas dispersos
é um outro jogo
: uma poeira azul espalha-se
por toda a parte
entranha-se na pele e nos ossos
basta um movimento errado
basta um movimento
basta não se estar a dormir
as regras são precisas
infalíveis – dolorosas
um pensamento a mais e fecha-se o mar
contrai-se o rio
e os navios morrem na sua embaixada
sexta-feira, 16 de maio de 2008
poemas dispersos
aqui tão preso à criatura que os
meus
olhos cegos vêem
fico incapaz de qualquer movimento
criador sou – também eu – só
criatura Nisto o cavalo salta
branco como as pedras do deserto
Estremeço
, reparo-me cansado demais
para o acompanhar.........;o desejo adormece
e a bela criatura depois do salto corre
em direcção às folhas dos canteiros
hei-nos no coração da Metrópole
quinta-feira, 15 de maio de 2008
poemas dispersos
confundem-se árvores
cai água desamparada
mente sobre os troncos
as folhas rebentam nas copas
«chove»
está-se sozinho num
bosque transfigurado em
plena cidade – sem uma palavra
alguém – uma mão – é num
café que acendo só
mais um cigarro
poemas dispersos
confundem-se árvores
cai água desamparada
mente sobre os troncos
as folhas rebentam nas copas
«chove»
está-se sozinho num
bosque transfigurado em
plena cidade – sem uma palavra
alguém – uma mão – é num
café que acendo só
mais um cigarro
quarta-feira, 14 de maio de 2008
poemas dispersos
sei que existo – sinto pernas
e olhos: os dedos mexem
… mas, à minha volta
, tudo está corajosamente congelado
menos os Pássaros que também existem
e devem sentir as pernas e as penas
e os olhos, a rodarem nas órbitas – por
isso os procuro – mas não
, não encontro Pássaros ao olhar
ouço-Os, mas não os vejo
quando encaro o alto
diante de mim
só vejo um lastro quente de sangue negro
terça-feira, 13 de maio de 2008
poemas dispersos
13 de maio de 2008 – dia da mãe do mundo
na ternura perdida das mães
reside a dureza real dos filhos
que como sereias encantam
marinheiros e soldados
chamando-os para uma revolução
sem princípio nem fim
sem mares onde naveguem corvetas
da guerra dos anjos e das rosas
imaculadas mães
que justas na produção
dos filhos os envolvem numa placenta
de veneno e sol e lhes dão vida
para que morram depois
os filhos santificam essas mães
procurando ser o os seus amantes
distantes e gritantes
filhos mortos de mães mortas
e a vida a florescer em
naves de água pura e em frechas
de rocha onde alguns se escondem
mães cruéis na criação dos filhos
mães sem olhar
sem cheiro
sem terra a que pertençam quando
sepultadas, filhos translúcidos
num colectivo enforcamento de sonhos
segunda-feira, 12 de maio de 2008
poemas dispersos
os antigos guerreiros
traziam nas suas armaduras
cruzes de prata
pintadas de escarlate e
erguiam sobre as cabeças
elmos em chama
cavalgavam sobre campos d
esconhecidos: bosques, desertos
,gigantescos lagos e ainda
assim
nada os detinha – nenhum vento
apagava a tocha que lhes indicava
a senda – um dia perderam
o tesouro que os mantinha vivos
uma arca de vitral
onde guardavam as relíquias
sagradas da deusa
a deusa de todos os deuses
as armaduras caíram por terra
os elmos fizeram-se água
mas as cruzes escarlate
continuam enterradas nas campas
brilhando sempre que o sol
se põe tentando salvar os
poucos peregrinos que ainda p
ro
curam
a rainha-santa
poemas dispersos
os poemas já não chegam
nem as palavras – nem os pequenos
vocábulos antes cheios de sonho
falta tudo
:fadas, elfos, os grandes sábios
faltam os doces olhares dos dragões
a plenitude das mães
até o desespero dos dias antigos
e não são coisas que se possam procurar
…
dantes os navios passavam junto
à minha rua
e era ao som desses sinos de catedral
que sonhava começar um dia
bebendo do rio o frio e a vontade de chorar
nesses dias choviam cartas
– «o espanto» de que falavam o
s livros de ponty – ¿para que os terá escrito ele?
sabendo de antemão
que da caverna primeira nenhum sinal
chegaria, nem eco, nem amor –
os poemas já não chegam
a quimera partiu e com ela
as anões, os gigantes, os ogres, afinal
todos os deuses de um astral amoroso
e natural. ei-nos sós neste
pedaço enquadrado de cores brancas
cores perdidas em telas perdidas
e o homem anda, soluça
conta tostões sobre a mesa
esperando que por debaixo dela
uma fada de olhos claros
se aventurasse a pegar-lhe na mão
e elevando os olhos o fizesse adejar
… mas os poemas morreram com os poetas
(vem-me agora à cabeça a música
dos versos de herberto)
…
nesta noite, subitamente
(enquanto escrevo)
ouço na rua um animal
uma besta que se esfrega para encontrar
comida
antes isso – digo em voz alta – que andar
rastejando debaixo de uma mesa
numa procura cega
por um espírito da natureza que
sei, com certeza,
ausente
invisível.
mesmo morto.
antes a besta
que a lira de herberto
;os navios do rio
;os espantos nos sinais de ponty
não.
os poemas já não chegam
estamos abençoadamente
próximos do fim
sábado, 10 de maio de 2008
poemas dispersos
são páginas de calendário
só páginas de calendário
centenas de milhar
números
pequenas notas
nomes
de
gente de um dia
– iniciais –
pequenos recortes mal colados
…
deve haver mais alguma coisa
tem de haver
qualquer coisa brilhante
sonora: um corcel
sexta-feira, 9 de maio de 2008
poemas dispersos
sentado num moinho feito trono
espero um cavaleiro
tenho as pernas recolhidas
o torso tenso e revolto
corujas circulam no telhado
estarão assim toda a noite?
cúmplices e raras aves
há estrelas
uma linha de lua
sentado num moinho feito trono
adormeço
quinta-feira, 8 de maio de 2008
poemas dispersos
um primeiro dia algumas cores
o cavalo que corre
o bispo avança no xadrez
tantos rostos peões
à volta do campo de batalha
numa cerca verde
nascem livres flores-do-deserto
segunda-feira, 5 de maio de 2008
poemas dispersos
perfiladas de negro
as bandeiras
as nossas bandeiras
e os ratos a cantar
a cantar os hinos
os nossos hinos – nas praças
nas nossas praças
e os gatos a adorar
a adorar pobre bomba a rebentar
poetas sem sabor
num pedaço de pão
carne a apodrecer e nem
um tiro de canhão
domingo, 4 de maio de 2008
poemas dispersos
talvez o barco se tivesse virado
ou o mar se tivesse virado
qualquer coisa ficou fora da órbita
de repente um aperto forte
e as veias torcendo-se em choro –
uma contracção no peito
tremor nas pernas
até que ao longe as gaivotas
planaram de novo com doçura
e tudo ficou calmo – o barco –
e o oceano na sua transparência
sábado, 3 de maio de 2008
sexta-feira, 2 de maio de 2008
poemas dispersos
corre meu corvo
corre se as tuas asas já não podem
refugia-te no negro
usa a espada que tens como bico
corre para o mar lá estarás a salvo
lá
nem barcos nem homens nem animais
te atormentarão
corre meu corvo
corre em direcção ao sal e ao sol
de um mar alto onde tudo te protegerá
quinta-feira, 1 de maio de 2008
poemas dispersos
quando ouvia a tua voz escrita
acendiam-se os olhos
d’uma noite inteira
marcavam-se no amplexo do céu
pequenos pontos brancos
que fixava como se fossem
candeias angélicas
ou diamantes lapidados
brilhando à luz de um sol negro
calo agora essa voz
e adormeço cego de luzes
acrescentando: para sempre
terça-feira, 29 de abril de 2008
poemas dispersos
o anjo do apocalipse
cujo os pés repousam no mar
trouxe-me num vaso de pérolas
uma flor das águas:
o amor do grande armageddon
ia
enfim começar e eu
salvo pelas redes do espanto
fui escolhido para sangrar
o cálice da nova terra
segunda-feira, 28 de abril de 2008
poemas dispersos
é uma escultura italiana
um leão que chora
deitado – derrotado
escondendo os olhos com as garras
enquanto
um gigantesco arcanjo de mármore
o afaga tentado a salvar o rei
da morte que se aproxima
uma imagem congelada da derrota
: por muitos séculos assim
permanecerão
domingo, 27 de abril de 2008
poemas dispersos
vento calmo calmo cal
mo
brisa que mesmo não sendo brisa
se sente brisa como em dias
de muito inverno uma chuva
perfumada nos enche o fato
e os olhos
de lágrimas disfarçadas
sábado, 26 de abril de 2008
poemas dispersos
ficará impresso num caractere
um quase invisível sinal de dedicatória
saberás lê-lo?
como todos os deuses e poetas
os versos contêm
pequenos sinais nas cores
sobrevoando uma linha longa de texto
ofereço-te o meu reino
num hífen sobre-tintado
sexta-feira, 25 de abril de 2008
poemas dispersos
25 de abril de 2008
para o pintor era uma questão de amarelo
e de um peixe grande e aterrador
com uns olhos muito verdes e barbatana
s azul cobalto – o pintor insistia no amarelo
para o corpo o mar em que o peixe
remava – o pintor morreu e o amarelo
não chegou a despertar
ainda
assim
o peixe nadou para um longínquo cravo
quinta-feira, 24 de abril de 2008
poemas dispersos
como um choro lento
vi as flores na jarra
brilhantes e vermelhas – brancas de
tão profundo escarlate
e sentei-me imóvel
com um medo adulto de quebrar
aquela lâmina espelhada de
alguma felicidade
quarta-feira, 23 de abril de 2008
poemas dispersos
uma garça sobre o rio
um voo plano
rápido
os marinheiros soltavam cordas
e a luz do fim do dia
ressaltava na fina superfície
da água – a garça inverteu o rumo
os marinheiros recolheram
até que floriu um dourado imenso
como se a noite ali fosse nadar
terça-feira, 22 de abril de 2008
segunda-feira, 21 de abril de 2008
poemas dispersos
não quero lembrar-me
nem tão pouco ser uma luz radiosa
para a qual um dia desperte se esquecer
o Eu imenso que sou
quero – notem bem –
quero apenas uma caneta
de aparo suave com que possa
rasgar num papel
com uma tinta muito ágil
as latitudes e longitudes
das noites insones que me acompanham
com a mesma natureza felina
de um gato aos pés
da cama da velha tia de alguém
madrugada dentro
domingo, 20 de abril de 2008
poemas dispersos
um tiro ou uma corda onde pouse
um corvo e uma bem-aventurada rosa
. à beira da chuva todos os pequenos
passos levam ao lugar do desastre
e salvos um a um os cegos
de goya levantar-se-ão em filas
e voarão até ao céu onde
dependurado está aquele que a todos
sem pensar
prometeu a salvação
PEDRO BANDEIRA FREIRE

pedro bandeira freire morreu de dor e amor.
amor por quatro salas de cinema, Quarteto de amor
e verdes anos.
morreu por ter de entregar as chaves desse amor a quarto.
hoje pode descansar? já não tem o seu amor, nem um Quarteto
de filmes que nos abraçavam noite após noite.
que fique a recordação do seu rosto dorido E a lembrança
de um bilhete, parecido com um antigo bilhete de eléctrico,
Chamado Desejo.

sábado, 19 de abril de 2008
poemas dispersos
assim entrançada na rede de ferro
a trepadeira desenha perfis e corpos
gente de costas
gente gritante – bocas a pedir socorro
e enquanto o vento lhe bate nas folhas
todos aqueles semi-seres se contorcem
e agitam
e parecem ainda maiores e mais desfigurados
lacrimejantes
ousando
sexta-feira, 18 de abril de 2008
poemas dispersos
apesar do lodo
da chuva oblíqua – do corpo
toldado por ínfimas lágrimas
vejo
e vejo com tamanha clarividência
que até as montanhas
por de trás das nuvens me são
entendíveis ao olhos
tudo o resto é em vão
não penso, porque pensar seria
uma ilusão sem resposta
não me movo porque escorregaria no
lodo para sempre
:apenas olho as setas de água
, disparadas
à terra
sentindo com a mais íntima
das percepções
que tudo é assim
está certo
e é natural
quinta-feira, 17 de abril de 2008
quarta-feira, 16 de abril de 2008
terça-feira, 15 de abril de 2008
poemas dispersos
tem os olhos brancos e chama-
se açores
caminha depressa
(sem ir a lado nenhum)
de costas parece um tigre de cartão
de frente é um tigre de cartão
vive a cidade sem prender o olhar
uma vez que seja
as mãos são alvas como os olhos
e seria um bom pastor
ou poeta
se pusesse tal hipótese
conheci-o hoje e
chamei-lhe açores
segunda-feira, 14 de abril de 2008
poemas dispersos
quando os anjos me visitam
param os ventos e o tremor da água
tudo fica perfeito e terno - até me
abandonarem num
humano cheiro
fundido na terra
asfixiado e cego como no real
inferno
de dante
¿para que me visitam então os anjos
se é o abandono inevitável?
mil vezes o permanente interior do fogo
do que conhecendo o toque da rosa
ter de a perder
domingo, 13 de abril de 2008
poemas dispersos
da minha cama pode
ver-se
tudo o que o céu tem
e ainda as pessoas que ninguém sabe que existem
a mim a cama ensinou-me tudo
e é por isso que eu sei com
toda a certeza
que a estrela brilhante que ilumina a terra
só existe para me saborear
sábado, 12 de abril de 2008
Comic Con

Os 4, do ido estúdio da Bica { Ricardo Venâncio, Ricardo Tércio, Nuno "Plati" Alves e João Lemos } vão estar na Artist's Alley da New York Comic Con deste ano { mesas F7 a F10 }. Com eles, estarão também Rui Lacas e Jorge Coelho, do nosso novo estúdio, bem como o realizador Paulo Prazeres, da Droid-I.D a documentar a experiência.
poemas dispersos
tenho nos ouvidos um piano e
uns dedos que ouvem: uma partitura
talvez pelo mistério da partitura
; «goldberg – variações» ou
pelo mistério de ter um piano em mim
só consigo acordar em paz
se ressoarem em celebração
as mãos e os tempos de glenn
sexta-feira, 11 de abril de 2008
poemas dispersos
antes de fechares a porta olha-
-me com alguma ternura e diz.
diz o que nunca me disseste.
o que nunca foste capaz de dizer.
diz.
e depois vai tranca bem a porta e
n~
ao voltes a pronunciar o nosso nome.
quinta-feira, 10 de abril de 2008
poemas dispersos
sou uma chávena de chá
mas sem o odor transparente
e o calor reconfortante de uma tisana
sou só um líquido
espesso
preso num recipiente redondo
quarta-feira, 9 de abril de 2008
poemas dispersos
comecei por ver a sombra de um gato
depois vi o gato
cinzento quase azul
quando entrou pelo quarto da pensão
não saltou, voou aterrando debaixo
do grande candeeiro à entrada da sala
não havia nada a dizer
ficámos num aparente silêncio
sem tirar os olhos um do outro
ao fim de umas horas ele voou de volta
fechando a janela atrás de si
contudo a sua sombra manteve-se projectada no te
cto durante toda a noite
terça-feira, 8 de abril de 2008
poemas dispersos
quando tivemos de anunciar a tua morte, fiama
caiu um véu de sóis e pinceladas negras
já não há barcos na tua praia
devoraste-os nos versos
se dissesse: algarve, ressuscitaria
os teus fonemas? as
tuas letras grandes sobre papel fino?
acaso foste visitada por um arcanjo a
nunciador da morte dos poemas?
segunda-feira, 7 de abril de 2008
poemas dispersos
há vasos de flores que se partem e
partem-se sobre longas mesas voadoras
– diluem-se – hoje chove e há orquídeas
carnívoras na cama como
se a cama fosse ainda o berço
do bebé sem sono que fui.
por dentro do corpo azulam-se
todas
as metáforas
mas não sairá um vocábulo
pela boca insistente que as flores têm
entre nós e os peixes, o aquário.
Foi criada a Versão On-Line do Jornal «THEOSOPHIA»
THEOSOPHIA
Grupo de Estudos Teosóficos «Antero de Quental»
domingo, 6 de abril de 2008
o caderno feliz #20
#20
cheguei à torre percorri com a ponta dos dedos os caracteres do mapa lá estavam o rio o portão vermelho o estreito carreiro de terra por onde devem ter passado os cavaleiros de um tempo sem data cheguei à torre e do cimo gritei o meu nome caderno feliz/
o caderno feliz #19
#19
ouve esfinge não há filosofia ou pensamento antigo ou moderno que possa decifrar o teu divino segredo nos teus olhos abrem-se duas portas por elas só os pássaros estão permitidos mas eu olho-te e sinto-te alma gémea nós dois gigantescos vocábulos provocando tempestades/
sexta-feira, 4 de abril de 2008
o caderno feliz #18
#18
era inevitável chegar à loucura nada na loucura me assusta a loucura é bela cega-nos e a cegueira leva-nos ao mar cheguei pois e sinto a paz a ascender como uma esplendorosa força terrestre amada e amante olá guardador de rebanhos/
quinta-feira, 3 de abril de 2008
o caderno feliz #17
#17
ainda trago os espinhos na palma dos pés no início parecia uma caminhada tão simples pura e transparente mesmo com muito esforço as agulhas não saem talvez estejam definitivamente cravadas não sinto dor não sinto os pés sofro só a memória do primeiro andamento/
quarta-feira, 2 de abril de 2008
o caderno feliz #16
#16
subo o abismo sem cair o alento está a meu favor subir as paredes de um abismo é uma escalada como qualquer outra é o que todos dizem e é por isso que aproveito este vento com naturalidade pondo sem cuidados o pé na rocha seguinte honro o meu nome sísifo/
o caderno feliz #15
#15
acordei sobre um pano de pequenas pedras aquecidas pelo sol o corpo nu imóvel mesmo ao lado um ribeiro corria contra a corrente levantado poderia ter-me deixado refrescar pelas águas mas o conforto da dor jamais o permitiria/
segunda-feira, 31 de março de 2008
o caderno feliz #14
#14
a terra parece mármore será que ouço um mocho será que ouço a terra parece mar pressinto navios ancorados e gente a nadar apetece-me mudar de nome soltar as amarras e subir pelo céu num voo longo e vertical poderia jurar que é um mocho um mocho caçador anunciando a sua primazia sobre os outros predadores caminho suavemente sobre o mármore e inscrevo como numa lápide mortuária o meu epitáfio peregrinator/
domingo, 30 de março de 2008
quinta-feira, 27 de março de 2008
o caderno feliz #13
#13
há sol a praia passa perto de uma linha telefónica anseio três seixos com que farei um oráculo o cão dorme no piso de cima uma cão doce de coleira verde a esta hora já os meus olhos estão vazios e o caos toma conta dos actos assim deixo-me levar pela praia pela expectativa dos seixos/
o caderno feliz #12
# 12
há nuvens japonesas no céu paisagens celebrantes e árvores de flores brancas amendoeiras as cotovias cantam para e só para nosso deleite recortado no azul um cavalo e um cavaleiro/
terça-feira, 25 de março de 2008
o caderno feliz #11
#11
com estas palavras só peço chuva inundações gigantes ondas gigantes cabelos gigantes toda a terra me denuncia e os anjos olham-me sem ouvidos/
segunda-feira, 24 de março de 2008
o caderno feliz #10
#10
é ouro grande lápis esforçando-se por desenhar é todo ouro ouro sol branco papel lápis branco e mar vejo o meu nome numa parede e basta-me para atestar a minha existência sou a prata restante o restolho de um ourives por natureza cruel jamais serei moeda lua cheia só me é dado contemplar/
domingo, 23 de março de 2008
o caderno feliz #9
#9 – domingo de ressurreição
hoje os meus dedos abriram-se em flores e sangue quente durante a noite as almas visitaram-me embalando-me na tranquilidade de um sonho transparente graciosa candeia de lua rasgando o coração por onde uma mão entrou carinhosamente amante/
sábado, 22 de março de 2008
o caderno feliz #8
#8 – sábado de aleluia
são os pés que paralisam os olhos que se fecham formam uma cruz repleta de semi-deuses a travar o caminho talvez a cruz seja ilusória a verdade é que é impossível dar um passo regressar ao presente não fugir o vento tornou-se violento e os anjos resguardaram-se dos homens terá sido esta a verdade dos profetas/
sexta-feira, 21 de março de 2008
o caderno feliz #7
#7 – sexta-feira santa
todas as minhas almas se reúnem num só corpo estou preparado/
quarta-feira, 19 de março de 2008
o caderno feliz #6
#6
caem-me os cabelos os pássaros gostam eu gosto só não consigo suportar estes óculos não é que não me sirvam mas pesam-me como se em mim tivesse entrado toda a tristeza do mundo ou eu próprio fosse toda a tristeza do mundo os pássaros bicam a minha cabeça cada vez mais despida e quando olho em frente só consigo fixar a devastação das árvores já morreram quase todas caçadas por uma qualquer mente adversa à serenidade cai-me a pele os pássaros gostam eu gosto só não consigo suportar estes óculos/
segunda-feira, 17 de março de 2008
domingo, 16 de março de 2008
sábado, 8 de março de 2008
o caderno feliz #5
#5
as noites eram o meu espaço de felicidade mas há duas semanas que um intruso penetra nas minhas propriedades oníricas revolvendo os meus sonhos a maneira certeira e lúcida com que ele o faz leva-me a crer que seja um menino morto por nunca ter adormecido a tempo de o ver ele escapa-se e sabe o que faz percebo que só quer apoderar-se dos meus sonhos tem com certeza tudo planeado e por qualquer razão desconhecida escolheu-me a mim como vítima e que posso eu fazer se é um anjo caído/
o caderno feliz #4
#4
há dias em que acontecem inexplicáveis surpresas como ontem ao principio da noite homens puseram enxofre a queimar nestes casos os gatos fogem abençoando o espaço com gritos interiores é que um gato reconhece sempre uma invocação do diabo e talvez nem se trate de uma fuga mas de uma retirada como um soldado que se atrasa no xadrez da guerra preparando-se para um combate mais feroz/
SOS Voz Amiga
Texto escrito por solicitação do SOS Voz Amiga
a palavra certa
frederico mira george
para o fernando
eis dois homens na noite da rádio um de palavras serenas suicidas e certas algures na cidade outro de palavras sedutoras curtas e certas o homem do outro lado do estúdio está confiante irredutível o homem na telefonia-sem-fios está lúcido mas com medo há quantos anos a sua vida é feita de ler vozes trinta talvez sabe que o outro homem não brinca vai matar-se e quer fazer o espectáculo da sua morte quer fazer da sua morte ao menos um minuto de glória para o homem da rádio basta-lhe um tom uma ténue vibração de voz para saber o passo seguinte é nisso que confia a determinação do homem ao telefone é verdadeira e quase impossível de vencer na régie chamam a polícia quinze minutos é o que precisam o homem da telefonia tem de ter a palavra certa para o manter no ar o homem para lá do estúdio eis um duelo de dois grandes guerreiros no xadrez da amada rádio dos sons e silêncios deles depende a morte de um ou a frustração culpada do outro não pode haver erros de parte a parte para o homem suicida nada o pode seduzir para o homem ao microfone cada palavra tem de seduzir quem os escuta no éter nem se apercebe quão gigantes estes homens são a polícia leva mais tempo que o previsto o suor cai sobre o rosto de ambos os guerreiros as palavras de passe continuam são elas que dão acesso ao nível superior do xadrez estão os dois prestes a rebentar as palavras tornam-se finais os silêncios aumentam a estação da rádio está feita uma esquadra de polícia o homem da rádio diz a primeira palavra errada o gigante do outro lado assusta-se mas não foge a polícia encontra o local perto dali afinal o éter era mais pequeno do que se imaginava talvez seja por pouco e foi pelo microfone ouvimos agora o repórter que descreve um quarto entrincheirado e preparado para a explosão de pontas de gás o telefone cai o repórter silencia-se no estúdio o homem da telefonia deita-se no chão exausto uma ideia atormenta-o não lhe sai da ideia a traição que talvez tenha feito ao homem do telefone a sedução da sua voz cativou o suicida puxou-o para a amada rádio terá isso sido legítimo terá ele salvo este homem da morte ou tê-lo-á condenado à vida eterna/
terça-feira, 4 de março de 2008
o caderno feliz #3
#3
não chove apesar de estar um céu negro e ameaçador tenho o meu chapéu desde os dezassete anos está coçado e velho mas encaixa na minha cabeça como uma luva perfeita serviria numa mão perfeita as manhãs assim são horrivelmente roxas e demoradas desejava poder conversar conversar muito com um humano ou um animal que me acariciasse não sei se saia se ponha o meu chapéu a ausência de chuva ameaça-me talvez não talvez o que me ameace seja a presença do céu carregado sabendo que não vai chover nem trovejar são manhãs sem ninguém manhãs de frio estando calor apenas encontro conforto num casaco que encontrei na rua e que transmite ao meu corpo uma satisfação quase pura plural e afinada um pretexto para ter algo em que pensar penso pouco e quando penso é nestas coisas no chapéu no casaco na chuva retardada para um verão que há-de vir e se sente pelas costas como se de alguém se tratasse com uma pistola em punho pretextos por todos os lados para matar as horas anseio a chegada a uma outra terra a um outro lago anseio ver com outros sentidos este lado tão curto da vida/
domingo, 2 de março de 2008
o caderno feliz #2
#2
acordei e senti-me uma raiz de mandrágora com um foco de luz azul-gelado a observar-me virei a cabeça assustado em pânico e reparei na presença serena de malone está a morrer de samuel beckett em cima da mesa de cabeceira isso acalmou-me a luz fundiu-se no escuro da madrugada e o meu corpo abandonou a textura humana da mandrágora foi quando começaram os gritos miados da gata do primeiro andar num cio atrasado já não estava só do pânico total passei à tranquilidade do dia quase a despontar então senti uma humilde vontade de estar grato a tudo especialmente à gata do primeiro andar apesar de ver tudo a branco-e-negro consegui pôr mirra e funcho no turíbulo em oferenda ao dia que estava a nascer deitei-me de novo e adormeci numa paz de bach todo eu era uma dormência feliz/
o caderno feliz #1
#1
gosto de táxis como um anjo das suas asas gosto de ir e olhar para a frente e para trás e para os lados gosto da total irresponsabilidade de me deixar conduzir pelas ruas ao volante de um homem que não conheço num barco ainda mais desconhecido costumo pousar o chapéu sobre os joelhos o guarda-chuva no chão sim porque eu ando sempre de guarda-chuva às vezes suo e é aí que medito na alma na metafísica na pobre filosofia dos homens é aí que tenho pena de todas as almas e de todos os metafísicos e de todos os pobres filósofos é aí que imagino que há sol e flores e peixes em lagos algures na casa de alguém e provavelmente no mar sim é nos táxis que desobedeço a deus e me sinto numa missa de incontáveis hóstias de todas as cores/
terça-feira, 26 de fevereiro de 2008
domingo, 24 de fevereiro de 2008
sábado, 23 de fevereiro de 2008
do fim para o princípio - SILÊNCIÁRIO
Aqui fica a introdução ao livro «SILÊNCIÁRIO» cujos poemas têm vindo a ser publicados neste blog nos últimos meses:
AS PALAVRAS DA MEDITAÇÃO
talvez sejam só letras/palavras. espaços entrelaçados. visões rápidas. espasmos. acelerações cardíacas. talvez isso seja tudo. tudo é muito mas ainda não é o todo. talvez não seja bem isto o que se pode dizer destas frases que vão encontrar a seguir a esta página, todas elas escritas minutos antes de uma sessão de zazen. antes de meditar somos cruzados por pensamentos – questões? – que nos colocam perante o paradoxo da nossa mente. já em meditação, esses pensamentos, ou questões, diluem-se num espaço indisível, inefável: a poesia. aí não há pensamento, nem visão, nem eu, nem tu, nem estar sentado ou em pé. aí não há o espaço, o corpo o odor. ao mesmo tempo tudo está presente: o pensamento, a visão, o eu, o tu, o sentado, o em pé, o espaço, o tempo. estão presentes mas não estão lá. tudo é paradoxal na meditação. consciente só a respiração. o acto primeiro. a orla da iluminação. mas ainda não estamos no todo. só na parte que nos poderá conduzir ao todo. zazen quer dizer meditação sentada. estar sentado é uma acção poderosa. tão poderosa como é poderoso olhar o sol quando nasce ou se põe ou observar a lua plena de um solstício. nestas palavras que habitei é possível que se consiga encontrar um fio condutor. o entrelaço de todas as agitações da mente. de todas as pausas. de todas as consequências e inconsequências. há um muro entre elas e eu como ser. a meditação reduz, ou eleva, esse muro ao estado da mais profunda transparência. em cada sessão é-nos dada a possibilidade de «ver» para o outro lado da parede que habitamos. enfim a morte.
lisboa, 23 de fevereiro de 2008 de uma era comum
Perguntas e Respostas Encontradas
Mais uma vez o brilho que vem do AR LÍQUIDO 3
O que é a morte?
É uma chave para 83 fechaduras.
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008
ABBADON

ABBADON Creation/Direction and Staging/Original Text: Hugo Callhim Cristovao- Creation/Performance/Original Drawings: Paula Cepeda Rodrigues /
terça-feira, 19 de fevereiro de 2008
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008
domingo, 17 de fevereiro de 2008
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008
em «AR LÍQUIDO 3»
a separação dos mares e da terra e a criação do céu, nas iluminuras de um Livro de Horas Franciscano, c1385-90
terça-feira, 12 de fevereiro de 2008
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008
sábado, 9 de fevereiro de 2008
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008
terça-feira, 5 de fevereiro de 2008
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008
domingo, 3 de fevereiro de 2008
sábado, 2 de fevereiro de 2008
quarta-feira, 30 de janeiro de 2008
terça-feira, 29 de janeiro de 2008
segunda-feira, 28 de janeiro de 2008
domingo, 27 de janeiro de 2008
sábado, 26 de janeiro de 2008
sexta-feira, 25 de janeiro de 2008
quarta-feira, 23 de janeiro de 2008
terça-feira, 22 de janeiro de 2008
sexta-feira, 18 de janeiro de 2008
quinta-feira, 17 de janeiro de 2008
quarta-feira, 16 de janeiro de 2008
terça-feira, 15 de janeiro de 2008
segunda-feira, 14 de janeiro de 2008
domingo, 13 de janeiro de 2008
sábado, 12 de janeiro de 2008
Luiz Pacheco, ainda (sempre)
João Pedro George lamenta morte do escritor Luiz Pacheco
A morte do escritor e crítico literário Luiz Pacheco constitui «uma perda irrecuperável», disse hoje à agência Lusa o professor universitário João Pedro George, que considerou o escritor um «tipo humano singular e irrepetível».
Em declarações à agência Lusa, João Pedro George - que está a fazer a tese de doutoramento sobre a biografia do escritor e crítico literário - disse lamentar «imenso» a morte de Luiz Pacheco, que considerava um «amigo pessoal», um «tipo humano singular e irrepetível» e não «um exemplar em série como acontece normalmente».
Luiz Pacheco, que chegou a ser conhecido como «um escritor maldito», fez da crítica a maneira de estar na literatura e da literatura o estar, referiu.
«Sinto a morte de Luiz Pacheco de uma forma muito profunda, já que o considerava um amigo pessoal e é quase como se o conhecesse intimamente», acrescentou João Pedro George.
A nível literário, João Pedro George considerou que com o desaparecimento de Luiz Pacheco «se perde um escritor como não voltará a existir outro».
Sublinhou ainda que o projecto literário de Luiz Pacheco foi «indissociável» da sua vida, razão por que é difícil perceber um sem que se entenda a outra.
«Era uma personalidade que poderíamos considerar excêntrica, que sempre que abria a boca nunca se sabia o que ia dizer, mas era um ser humano único», frisou.
João Pedro George acrescentou que há «vários anos» que estuda a vida e obra de Luiz Pacheco, pelo que a vida do escritor tem «estado quase diariamente presente» na sua vida nos últimos anos.
«O crocodilo que voa» é o título do livro de João Pedro George, que sairá ainda este mês pela Tinta da China e que reúne as últimas entrevistas dadas por Luiz Pacheco.
Luiz Pacheco nasceu em Lisboa a 07 de Maio de 1925 e morreu sábado no Hospital do Montijo.
Frequentou o curso de Filologia Românica da Faculdade de Letras de Lisboa, em 1945 começou a publicar textos em vários jornais e revistas e em 1950 fundou a editora Contraponto, que publicou pela primeira vez Mário Cesariny e António Maria Lisboa.
Raul Leal, Natália Correia e Vergílio Ferreira foram outros dos escritores publicados pela Contraponto.
«Textos de Guerrilha», «Textos do Barro», «O Teodolito», «A comunidade» e «O libertino passeia por Braga a idólatra o seu esplendor» são algumas das obras de Luiz Pacheco.
Diário Digital / Lusa
06-01-2008 12:50:00
sexta-feira, 11 de janeiro de 2008
quinta-feira, 10 de janeiro de 2008
quarta-feira, 9 de janeiro de 2008
terça-feira, 8 de janeiro de 2008
Caetano Veloso
Eu Sei Que Vou Te Amar
Caetano Veloso
Composição: Vinícius de Morais/Tom Jobim
Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida
Eu vou te amar
A cada despedida
Eu vou te amar
Desesperadamente
Eu sei que vou te amar..
E cada verso meu será
Prá te dizer
Que eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida...
Eu sei que vou chorar
A cada ausência tua eu vou chorar
Mas cada volta tua há de apagar
O que essa tua ausência me causou...
Eu sei que vou sofrer
A eterna desventura de viver
À espera de viver ao lado teu
Por toda a minha vida...
Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida
Eu vou te amar
A cada despedida
Eu vou te amar
Desesperadamente
Eu sei que vou te amar...
E cada verso meu será
Prá te dizer
Que eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida...
Eu sei que vou chorar
A cada ausência tua eu vou chorar
Mas cada volta tua há de apagar
O que essa tua ausência me causou...
Eu sei que vou sofrer
A eterna desventura de viver
À espera de viver ao lado teu
Por toda a minha vida...
segunda-feira, 7 de janeiro de 2008
domingo, 6 de janeiro de 2008
MESTRE Luiz Pacheco


sábado, 5 de janeiro de 2008
quinta-feira, 3 de janeiro de 2008
terça-feira, 1 de janeiro de 2008
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