domingo, 17 de agosto de 2008
poemas dispersos
curvado a esta luz
oiço e sinto
gotas de relento caindo
lá longe Nas cavernas
dos suplícios Sei
do que são feitas essas gotas
mas calo
não caberia a mim
– profeta cego para o divino –
levantar-me e correr e salvar do sacrifício
aqueles que pelo choro
da escrita nessa torre se encontram
a Correntados
estou frio
miraculosamente, velho de menos
andar é para mim um esforço maior do que cair
Com a graça de deus
(depois destas linhas terminadas e
apoiado numa cana)
acenarei em cruz ao arcanjo s. miguel
lerei o jornal – isto já no café –
e toda a memória do que ainda há momentos tinha
invocado se dissipará em leite e pão
praia das maçãs, agosto de 2008
quinta-feira, 14 de agosto de 2008
poemas dispersos
ainda trago um fio de sangue na roupa
, limões num saco Ligeiro corte
na podagem Acreditei que a luz do sol
me ajudaria a enxergar os veios dos ramos
o local certo da incisão
Ao contrário
ofuscou-me o grito do astro
e caí com letra no papel
já no chão vi um gato no céu
em forma de nuvem
e na terra muitos espinhos de rosa que
apesar de cravados
não me magoaram Conseguia levantar-me
estava bem
mas desejei estar melhor e ali fiquei
caído
ferido
mas deslumbrado com um céu imenso
escarlate de nuvens azuis e limões espalhados
ao redor da cabeça – amarelos
um amarelo definitivo
só Agora me ergui e depois de ter
recolhido os limões regresso a casa
vejo-me ao espelho estou mais leve
a cara cortada de chicote
fez-me despertar os olhos
o sangue caligrafou um olho na camisa
tudo está certo e maravilhosamente perfeito
praia das maças, agosto de 2008-09-14
segunda-feira, 4 de agosto de 2008
poemas dispersos
dE noite ainda se ouvia o mar
ou talvez fossem os pinheiros
na memória
ossoS
:um crânio com um esplêndido orifício
durante o sono surgiram imagens
de areia e sapatos
junto Às flores a infante sepultura
do teu nome
praia das maçãs, agosto de 2008
sexta-feira, 1 de agosto de 2008
poemas dispersos
depois de uma palavra
um gesto subtil de uma suposta
carícia
nem rosas
se revelaram
na noite de chuva
nada de verdadeiro
já na rua procuro a tabacaria
o tabaco desfazendo-se em fumo
acalma as cores agressivas
à volta tudo falso – salva-se o silêncio:
o cansaço das horas seguintes
ouvindo poemas
– na noite sonho confuso
com um barco sem tripulação
implacável
navegando
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