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terça-feira, 4 de março de 2008

o caderno feliz #3

#3 não chove apesar de estar um céu negro e ameaçador tenho o meu chapéu desde os dezassete anos está coçado e velho mas encaixa na minha cabeça como uma luva perfeita serviria numa mão perfeita as manhãs assim são horrivelmente roxas e demoradas desejava poder conversar conversar muito com um humano ou um animal que me acariciasse não sei se saia se ponha o meu chapéu a ausência de chuva ameaça-me talvez não talvez o que me ameace seja a presença do céu carregado sabendo que não vai chover nem trovejar são manhãs sem ninguém manhãs de frio estando calor apenas encontro conforto num casaco que encontrei na rua e que transmite ao meu corpo uma satisfação quase pura plural e afinada um pretexto para ter algo em que pensar penso pouco e quando penso é nestas coisas no chapéu no casaco na chuva retardada para um verão que há-de vir e se sente pelas costas como se de alguém se tratasse com uma pistola em punho pretextos por todos os lados para matar as horas anseio a chegada a uma outra terra a um outro lago anseio ver com outros sentidos este lado tão curto da vida/