domingo, 11 de novembro de 2007
Íntima Fracção
«às vezes você quer ir a um lugar onde todos saibam o seu nome». assim começava a canção de abertura do programa televisivo «aquele bar»
como quem cumprimenta toda a gente, volto a encontrar-me «rumo ao sul» no espaço esotérico entre a virtualidade do computador e o sonho do éter_
como quem procura o amplexo da telefonia reencontro a «íntima» na fracção da noite – francisco amaral – pouco para dizer, muito para escutar, tudo para sentir.
daqui ouço o murmúrio de uma legião de ouvintes rumo à amada rádio. a sétima legião da beleza – logo a seguir…
gotas caem, dispersam-se sozinhas - XXXIX a XL
XXXIX
serão precisos muitos meses, talvez
anos, para saber o que está a matar
as abelhas _ os apicultores não sabem […]
[…] ninguém sabe _ mas dizem as escrituras
sagradas que quando as abelhas e as
andorinhas
nos abandonarem é porque nos céus se iniciou
.....a grande revelação:
XL
kohan_
o mestre declarou ter chegado o momento
do pequeno aprendiz partir sozinho.
já lhe tinha dado todos os ensinamentos e revelado
todas as práticas. _ . «agora tu» _ agora eu _ «não me
deves pedir mais conselhos. nem te deves lembrar de mim.
pensa como se me tivesses assassinado, e, se for necessário,
não hesites, mata-me já»
.....passou-lhe para a mão um bastão, uma adaga e mergulhou:
gotas caem, dispersam-se sozinhas - XXXII a XXXVIII
XXXII
xerazade aos quarenta anos, só
aos quarenta anos leio as noites
da arábia _ mil e uma _ simbade
numa barca bate-me à porta e pede
suave
.....um lugar com limos para dormir:
XXXIII
sê livre como uma pincelada japonesa.
ocupa de negro o lugar do falecido
..........irmão
..........cristo
verás como todas as flores
.....brotarão
.....na tua campa:
XXXIV
a sua santidade o brilho, o décimo quarto
brilho da minha janela _ eu presto homenagem.
a sua santidade o vidro, o segundo
da terceira janela _ eu presto homenagem.
a sua santidade sua santidade, primeira
sua santidade do meu brilho vitrio , eu
.....presto homenagem:
XXXV
se agora me dissessem ser eu o autor
d’a «a voz humana», palavra de honra que acreditava.
acreditava da mesma maneira que acredito,
quando me dizem,
que foi jean cocteau a escrevê-la.
..........fosse eu ou j+c
..........pela linha desse terrível telefone
.....soaria o mesmo disparo inevitável:
XXXVI
o teu nome é jaguar e és um búfalo
[sobrevivente entre a multidão, sem dúvida
mas um búfalo] _ dono de um jornal de província,
excluído da manada, tentando insistentemente
escrever romances. o que não seria tarefa difícil
assim conseguisses pegar com as patas a tua minúscula
.....montblanc:
XXXVII
não sei como hei-de responder à amabilidade
da senhora que serve
aqui
às mesas.
é gentil e encontrar gentileza nas pessoas que
servem às mesas dos cafés é tão raro… coisa
digna de uma gratidão a que não sei
..................................responder.
atrás dela
no balcão
.....reluz um prato de queijadas:
XXXVIII
como sempre existiu, o corpo policial existe
e com as mesmas características com que existia
no tempo em que sabíamos que ele existia.
estamos à sua mercê _ não falo de policias
de
giro
desses que envergam fatos de sopeira _ há uns
outros, os ratos, os que erguem espadas ao céu
para que os anjos sejam impedidos de passar.
mas os anjos, os meus, lutam
sem tréguas e ganham
.....empunhando espadas flamejantes:
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