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quarta-feira, 16 de março de 2011

Satã


10.

Sem querer explicar como sei-o impossível e vã
tentativa a que não me exponho..., tenho visões
firmes de tacto e realidade, com Cesário ambulando
em Lisboa. A única Rua que percebeu.
Durante essas conspecções,
, privilégio de quem É vigilante,
assisto-o a tentar atravessar a estrada
[onde, por ironia, se empina
há muito o seu torso
consumado em bronze]
e a ser atropelado por uma nave de invenção humana....
¿automóvel?... talvez... Sim, um automóvel que na recorrência
das aparições vai cambiando de cor, como se alternasse as tinjas
da paleta-mostruário dos carrinhos-de-linha na Sua retrosaria.

Cesário foi um retroseiro, nada mais, que
tentava diariamente atravessar Lisboa e
que na metade da travessia era mortalmente
derrubado por um engenho de cores mutantes:
Aviso permanente ao retroseiro de que por mais poema
ou escultura erecta que detivesse na Rua que perfilhou,
seria perpetuamente limitado e reduzido de forma a que nunca pudesse delirar adiante da retrosaria.
®

Satã

9.

Há quem reclame a noite como sendo o cálice
de todas as substâncias geradas, as trevas que antepassaram a
Luz do Mundo e, por isso, o ninho afável
dos mestres-de-obras do primeiro e colossal
advento da Terra
: O Sol.
Quem demanda tal ouro para a noite, é porque não sabe
nem intui, que o dia é esplendoroso em si,
que nada, nunca, o precedeu, nem  mesmo as trevas,
e que a noite não é mais do que o ângulo sofredor
a que a Lua está obrigada.
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