sábado, 26 de julho de 2008
poemas dispersos
quase agosto
um dia de chuva
bastou
: dois corvos pousaram tranquilos
sobre as torres da fábrica
dois-grandes-corvos-quase-violeta
os operários saíram num ensejo
sonhador de os ver – ¿há
quantas décadas os corvos
não se aproximavam da cidade?
quase meio-dia… à hora certa
as sirenes gritaram
marcando a pausa para o almoço
mas a fábrica já estava vazia
no terreiro do estacionamento
três centenas de operários
tinham antecipado a pausa
para saudarem dois
corvos quase violeta
sexta-feira, 18 de julho de 2008
poemas dispersos
lia romances – extensos romances
lia
lia romances – extensos romances
em fundo azul
letras verticais e
oblíquas frases em erupção
depois dormia
deixando acesa uma suave luz amarela
e um gato a cobrir-lhe os pés
nos sonhos lia
relembrava
os romances
transformando-os em versos
delicados momentos de voo
no centro da noite
lia
lia romances – extensos romances
domingo, 6 de julho de 2008
poemas dispersos
viu-se de relâmpago e era negra
e como se uma chave fosse
uma chave foi
abrindo a porta do grande
palácio das buganvílias e dos loendros
lá dentro
sobre um pavimento de mosaicos
brancos e negros
duas colunas
suportavam sem esforço um globo celeste
e outro terrestre
duas esferas romãs
abertas e expostas à sua multitude
era uma espada de ferro quente
ondulada
: flamejante – a invocadora de todos os sortilégios
entre colunas –
onde reinava o silêncio
,soprou o verbo: «eis a minha espada, aqui
não haverá espaço para a defesa porque
não haverá espaço para o ataque»
nisto uma bicéfala águia branca pousou
sobre a coroa do trono
e no tecto do palácio se escreveu
num ouro muito azul: «ordo ab chao»
poemas dispersos
pelas ruas caminham ainda
Gaivotas
e outros animais de nome desconhecidos:
¿gente perdida? –
numa montra um vestido Branco
perfeito – luminoso
pelas ruas caminham ainda
Flores
silvestres odores ignorados
jardins sem rosto
lagos sem rosto
paisagens distorcidas
pelas ruas caminha ainda
um vestido Branco
perfeito – luminoso
poemas dispersos
um dia – se me tornar mesmo
peregrino – encontrarei as tuas pegadas
junto ao rio que escolheste
e aí ficarei a contemplá-las
parado
ouvindo as águas
respirando o oxigénio das ár
vores gigantes
:os corvos
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