terça-feira, 29 de abril de 2008
poemas dispersos
o anjo do apocalipse
cujo os pés repousam no mar
trouxe-me num vaso de pérolas
uma flor das águas:
o amor do grande armageddon
ia
enfim começar e eu
salvo pelas redes do espanto
fui escolhido para sangrar
o cálice da nova terra
segunda-feira, 28 de abril de 2008
poemas dispersos
é uma escultura italiana
um leão que chora
deitado – derrotado
escondendo os olhos com as garras
enquanto
um gigantesco arcanjo de mármore
o afaga tentado a salvar o rei
da morte que se aproxima
uma imagem congelada da derrota
: por muitos séculos assim
permanecerão
domingo, 27 de abril de 2008
poemas dispersos
vento calmo calmo cal
mo
brisa que mesmo não sendo brisa
se sente brisa como em dias
de muito inverno uma chuva
perfumada nos enche o fato
e os olhos
de lágrimas disfarçadas
sábado, 26 de abril de 2008
poemas dispersos
ficará impresso num caractere
um quase invisível sinal de dedicatória
saberás lê-lo?
como todos os deuses e poetas
os versos contêm
pequenos sinais nas cores
sobrevoando uma linha longa de texto
ofereço-te o meu reino
num hífen sobre-tintado
sexta-feira, 25 de abril de 2008
poemas dispersos
25 de abril de 2008
para o pintor era uma questão de amarelo
e de um peixe grande e aterrador
com uns olhos muito verdes e barbatana
s azul cobalto – o pintor insistia no amarelo
para o corpo o mar em que o peixe
remava – o pintor morreu e o amarelo
não chegou a despertar
ainda
assim
o peixe nadou para um longínquo cravo
quinta-feira, 24 de abril de 2008
poemas dispersos
como um choro lento
vi as flores na jarra
brilhantes e vermelhas – brancas de
tão profundo escarlate
e sentei-me imóvel
com um medo adulto de quebrar
aquela lâmina espelhada de
alguma felicidade
quarta-feira, 23 de abril de 2008
poemas dispersos
uma garça sobre o rio
um voo plano
rápido
os marinheiros soltavam cordas
e a luz do fim do dia
ressaltava na fina superfície
da água – a garça inverteu o rumo
os marinheiros recolheram
até que floriu um dourado imenso
como se a noite ali fosse nadar
terça-feira, 22 de abril de 2008
segunda-feira, 21 de abril de 2008
poemas dispersos
não quero lembrar-me
nem tão pouco ser uma luz radiosa
para a qual um dia desperte se esquecer
o Eu imenso que sou
quero – notem bem –
quero apenas uma caneta
de aparo suave com que possa
rasgar num papel
com uma tinta muito ágil
as latitudes e longitudes
das noites insones que me acompanham
com a mesma natureza felina
de um gato aos pés
da cama da velha tia de alguém
madrugada dentro
domingo, 20 de abril de 2008
poemas dispersos
um tiro ou uma corda onde pouse
um corvo e uma bem-aventurada rosa
. à beira da chuva todos os pequenos
passos levam ao lugar do desastre
e salvos um a um os cegos
de goya levantar-se-ão em filas
e voarão até ao céu onde
dependurado está aquele que a todos
sem pensar
prometeu a salvação
PEDRO BANDEIRA FREIRE

pedro bandeira freire morreu de dor e amor.
amor por quatro salas de cinema, Quarteto de amor
e verdes anos.
morreu por ter de entregar as chaves desse amor a quarto.
hoje pode descansar? já não tem o seu amor, nem um Quarteto
de filmes que nos abraçavam noite após noite.
que fique a recordação do seu rosto dorido E a lembrança
de um bilhete, parecido com um antigo bilhete de eléctrico,
Chamado Desejo.

sábado, 19 de abril de 2008
poemas dispersos
assim entrançada na rede de ferro
a trepadeira desenha perfis e corpos
gente de costas
gente gritante – bocas a pedir socorro
e enquanto o vento lhe bate nas folhas
todos aqueles semi-seres se contorcem
e agitam
e parecem ainda maiores e mais desfigurados
lacrimejantes
ousando
sexta-feira, 18 de abril de 2008
poemas dispersos
apesar do lodo
da chuva oblíqua – do corpo
toldado por ínfimas lágrimas
vejo
e vejo com tamanha clarividência
que até as montanhas
por de trás das nuvens me são
entendíveis ao olhos
tudo o resto é em vão
não penso, porque pensar seria
uma ilusão sem resposta
não me movo porque escorregaria no
lodo para sempre
:apenas olho as setas de água
, disparadas
à terra
sentindo com a mais íntima
das percepções
que tudo é assim
está certo
e é natural
quinta-feira, 17 de abril de 2008
quarta-feira, 16 de abril de 2008
terça-feira, 15 de abril de 2008
poemas dispersos
tem os olhos brancos e chama-
se açores
caminha depressa
(sem ir a lado nenhum)
de costas parece um tigre de cartão
de frente é um tigre de cartão
vive a cidade sem prender o olhar
uma vez que seja
as mãos são alvas como os olhos
e seria um bom pastor
ou poeta
se pusesse tal hipótese
conheci-o hoje e
chamei-lhe açores
segunda-feira, 14 de abril de 2008
poemas dispersos
quando os anjos me visitam
param os ventos e o tremor da água
tudo fica perfeito e terno - até me
abandonarem num
humano cheiro
fundido na terra
asfixiado e cego como no real
inferno
de dante
¿para que me visitam então os anjos
se é o abandono inevitável?
mil vezes o permanente interior do fogo
do que conhecendo o toque da rosa
ter de a perder
domingo, 13 de abril de 2008
poemas dispersos
da minha cama pode
ver-se
tudo o que o céu tem
e ainda as pessoas que ninguém sabe que existem
a mim a cama ensinou-me tudo
e é por isso que eu sei com
toda a certeza
que a estrela brilhante que ilumina a terra
só existe para me saborear
sábado, 12 de abril de 2008
Comic Con

Os 4, do ido estúdio da Bica { Ricardo Venâncio, Ricardo Tércio, Nuno "Plati" Alves e João Lemos } vão estar na Artist's Alley da New York Comic Con deste ano { mesas F7 a F10 }. Com eles, estarão também Rui Lacas e Jorge Coelho, do nosso novo estúdio, bem como o realizador Paulo Prazeres, da Droid-I.D a documentar a experiência.
poemas dispersos
tenho nos ouvidos um piano e
uns dedos que ouvem: uma partitura
talvez pelo mistério da partitura
; «goldberg – variações» ou
pelo mistério de ter um piano em mim
só consigo acordar em paz
se ressoarem em celebração
as mãos e os tempos de glenn
sexta-feira, 11 de abril de 2008
poemas dispersos
antes de fechares a porta olha-
-me com alguma ternura e diz.
diz o que nunca me disseste.
o que nunca foste capaz de dizer.
diz.
e depois vai tranca bem a porta e
n~
ao voltes a pronunciar o nosso nome.
quinta-feira, 10 de abril de 2008
poemas dispersos
sou uma chávena de chá
mas sem o odor transparente
e o calor reconfortante de uma tisana
sou só um líquido
espesso
preso num recipiente redondo
quarta-feira, 9 de abril de 2008
poemas dispersos
comecei por ver a sombra de um gato
depois vi o gato
cinzento quase azul
quando entrou pelo quarto da pensão
não saltou, voou aterrando debaixo
do grande candeeiro à entrada da sala
não havia nada a dizer
ficámos num aparente silêncio
sem tirar os olhos um do outro
ao fim de umas horas ele voou de volta
fechando a janela atrás de si
contudo a sua sombra manteve-se projectada no te
cto durante toda a noite
terça-feira, 8 de abril de 2008
poemas dispersos
quando tivemos de anunciar a tua morte, fiama
caiu um véu de sóis e pinceladas negras
já não há barcos na tua praia
devoraste-os nos versos
se dissesse: algarve, ressuscitaria
os teus fonemas? as
tuas letras grandes sobre papel fino?
acaso foste visitada por um arcanjo a
nunciador da morte dos poemas?
segunda-feira, 7 de abril de 2008
poemas dispersos
há vasos de flores que se partem e
partem-se sobre longas mesas voadoras
– diluem-se – hoje chove e há orquídeas
carnívoras na cama como
se a cama fosse ainda o berço
do bebé sem sono que fui.
por dentro do corpo azulam-se
todas
as metáforas
mas não sairá um vocábulo
pela boca insistente que as flores têm
entre nós e os peixes, o aquário.
Foi criada a Versão On-Line do Jornal «THEOSOPHIA»
THEOSOPHIA
Grupo de Estudos Teosóficos «Antero de Quental»
domingo, 6 de abril de 2008
o caderno feliz #20
#20
cheguei à torre percorri com a ponta dos dedos os caracteres do mapa lá estavam o rio o portão vermelho o estreito carreiro de terra por onde devem ter passado os cavaleiros de um tempo sem data cheguei à torre e do cimo gritei o meu nome caderno feliz/
o caderno feliz #19
#19
ouve esfinge não há filosofia ou pensamento antigo ou moderno que possa decifrar o teu divino segredo nos teus olhos abrem-se duas portas por elas só os pássaros estão permitidos mas eu olho-te e sinto-te alma gémea nós dois gigantescos vocábulos provocando tempestades/
sexta-feira, 4 de abril de 2008
o caderno feliz #18
#18
era inevitável chegar à loucura nada na loucura me assusta a loucura é bela cega-nos e a cegueira leva-nos ao mar cheguei pois e sinto a paz a ascender como uma esplendorosa força terrestre amada e amante olá guardador de rebanhos/
quinta-feira, 3 de abril de 2008
o caderno feliz #17
#17
ainda trago os espinhos na palma dos pés no início parecia uma caminhada tão simples pura e transparente mesmo com muito esforço as agulhas não saem talvez estejam definitivamente cravadas não sinto dor não sinto os pés sofro só a memória do primeiro andamento/
quarta-feira, 2 de abril de 2008
o caderno feliz #16
#16
subo o abismo sem cair o alento está a meu favor subir as paredes de um abismo é uma escalada como qualquer outra é o que todos dizem e é por isso que aproveito este vento com naturalidade pondo sem cuidados o pé na rocha seguinte honro o meu nome sísifo/
o caderno feliz #15
#15
acordei sobre um pano de pequenas pedras aquecidas pelo sol o corpo nu imóvel mesmo ao lado um ribeiro corria contra a corrente levantado poderia ter-me deixado refrescar pelas águas mas o conforto da dor jamais o permitiria/
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