
domingo, 13 de setembro de 2009
quarta-feira, 15 de julho de 2009
Contos.20
Finalmente
sócrates
deitou-se na Terra
Platão deitou-se com ele e
ouviu
num silêncio amante
o Testamento do Mestre:
«Um dia virão a mim
todos os corvos da terra»
Pama Inácio, Felizmente há L.U.A.R.

segunda-feira, 13 de julho de 2009
Contos.19
Longe de olhares profanos
juntam-se os lobos
que esperam
o brilho das lanternas
A última árvore do claustro
será o sinal
o Vento a testemunha
Volte ao Fogo o que é do Fogo
quinta-feira, 9 de julho de 2009
Contos.18
Para Luíza
Ele tem sonhado com a Senhora-do-Lago
Ele acorda com ela
Ele imagina-lhe os olhos
Ele pega-lhe nas mãos
Ele sabe
que é a única estrela que lhe trará vida
Quando Ela lhe fala
soam mantras num esperanto ainda
não inventado Mas ele lê-a
e conhece-lhe os movimentos
Como todas as feiticeiras Ela
mergulha no espelho da floresta
As árvores dizem-lhe tudo
a Ele resta-lhe o Lago
terça-feira, 30 de junho de 2009
Contos.17
Nuvens nos olhos, semeador
Caiu chuva sobre o teu caderno
Acordes baixos
no coração
fechado numa harpa
Nivelado no céu
, do meio-dia à meia-noite,
acácias confrontam-se
Sol e Lua numa sombra
quarta-feira, 10 de junho de 2009
segunda-feira, 8 de junho de 2009
sexta-feira, 5 de junho de 2009
Contos.16
pela sua palavra
, seu riso – preso
no verde tão claro do poço
Em voz baixa
avançou mais um pouco
Tão longo e estreito nado
Respirou e teve tempo:
«Amo o teu a-
braço»
quarta-feira, 27 de maio de 2009
quinta-feira, 21 de maio de 2009
JOÃO BÉNARD DA COSTA
domingo, 17 de maio de 2009
Contos.15
mal consegue vestir o pijama
– Já não sofre por isso Em
tempos pediu aos seus amantes
que o amassem… «está uma noite gelada»
Um maio-inverno e ele mel
Em jovem
, dizem,
escreveu poemas e banhou-se em
águas quentes de perfume Já
não sofre Tem vinte e cinco anos
e um único e secreto desejo
: «esta noite, vestir, sozinho, o meu pijama lavado»
sexta-feira, 8 de maio de 2009
Contos.14
Para L.
Platão rasgou o envelope e leu entre aspas
: «Do perfeito coração
os teus dedos diriam:
“voz grave, inquieta, Amo-
rosa”
Dos teus dedos o Coração pararia
e… em mim
, de pedra,
tudo se talharia: Poemas-Cantaria! –
Meu piano
,minha pele que se desprendia»
sábado, 25 de abril de 2009
segunda-feira, 20 de abril de 2009
Contos.13
13.
ele soube – o seu sangue soube
quando a sentiu O sangue voltou
a correr
, os olhos voltaram a brilhar
mesmo de noite
, passaram-lhe as dores do abandono
Ele soube
e
deu-lhe – um dia – pela – primeira
vez a mão
tremendo por fora Voltara a
sentir a compulsão de beijar
, beber chá, ouvir incenso,
morrer para todas as outras coisas
Agora, só, relembra
os sor
risos
, as lágrimas, e, apesar de uma distância
que lhe parece intransponível
, platão voltou a adormecer
domingo, 5 de abril de 2009
Contos.12
No cimo do moinho – lá
onde reina a roda e a mó
, passeavam patos E ele
, assustado, curvou-se perante eles
numa vénia trémula Os patos
suspenderam a respiração e
ignorando a vénia atacaram-no
sem um grito Conseguiu fugir, sim,
conseguiu Correu pelo campo em volta
tentou esconder-se escondeu-se
finalmente repousou
Após alguns momentos de paz lembrou-se
, lembrou-se:
no moinho, lá junto à roda e à mó
, à guarda dos patos,
tinham ficado os óculos
Os seus únicos óculos
quinta-feira, 2 de abril de 2009
Contos.11
Pela primeira vez em muitos dias
, platão levantou-se com alguma energia
e com a respiração normalizada
No entanto, o peso que sentia sobre si
não
diminuira
Andou apesar de sentir frio
, um frio que já vinha de trás
e que o sol não dissolvia
Andou
ainda
envolto na angústia
Parou, por fim, quando já sem sangue
se viu obrigado a sentar-se à beira de um pinheiro
domingo, 22 de março de 2009
Contos.10
Enquanto os espíritos o ouviam
, sócrates desenhava um redondo-redondo-redondo
círculo
,a vermelho
na parede Platão era a sua mão
e o giz
:mel e raiz
enquanto as palavras o contradiziam Os
espíritos ouviam-ouviam-ouviam
Sócrates morreu pouco depois
deitado num chão baixo
Sobre o corpo, platão tomou o seu rosto
e alto
, recto
deu-lhe a mão num imenso-imenso-imenso
desgosto
sexta-feira, 20 de março de 2009
Contos.9
E o tempo sempre a passar sempre a horas-sestas
, os carros
, as bandeiras –
os cravos
, as cidreiras
tudo olhando o homem estacado na cadeira
, ele já é a própria madeira
.
ao longe (vê-se pela janela) correm gatos
e fardas e crânios decorados
O homem chora e chora sentado
No céu formam-se letras,
uma a uma contam-se celestes canetas
quinta-feira, 12 de março de 2009
terça-feira, 3 de março de 2009
«Uma Poeira Azul Espalha-se»


domingo, 22 de fevereiro de 2009
Mestre Lagoa Henriques, Choremos, Choremos Choremos
quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009
Contos.8
... tinha-se deixado aninhar entre os cobertores
chegou mesmo
a sonhar – adormeceu portanto –
quando acordou tinha os lábios húmidos
e gretados Uma das pálpebras
mexia-se nervosamente Nem uma lágrima
Levantou-se e caminhou contra
o vento
Devagar conquistou o espaço à
sua frente
era livre de se afundar naquela tempestade
Foi aí que teve a visão
: num ponto do horizonte, um cavalo
parado olhava-o com ternura
sábado, 7 de fevereiro de 2009
Contos.7
numa cadeira de baloiço
sentia nas mãos o cheiro da despedida e
forças malignas, sangrentas
, a flutuarem-lhe no cérebro
Quase já sem vista
pousou nos joelhos os pesados
volumes árabes à procura de encanto: «mil
e uma
noites» percorrendo-lhe a face quente
Um dia tinha sido dom quixote
mas agora
, sem espada – perdida num último esforço –,
procurava em xerazade uma explicação para
os dias de febre Mil e 1
histórias que o salvassem
Reclinado para trás ousou pedir socorro
Caído
estava oficialmente vivo e soterrado
domingo, 25 de janeiro de 2009
Contos.6
tinham-se sentado numa laje
de pedra
viram
num céu escuro
as cores de um efémero arco e
receberam chuva nos cabelos
e beijaram-se e
pelo chão talvez tivessem caído
lágrimas De
seguida a escada íngreme
da despedida
Hoje, platão olha para uma jarra e observa seca
a orquídea azul daquele dia
Todas as tardes olha o céu quando está escuro
Pelo chão lágrimas abraçam-se
Contos.6
tinham-se sentado numa laje
de pedra
viram
num céu escuro
as cores de um efémero arco e
receberam chuva nos cabelos
e beijaram-se e
pelo chão talvez tivessem caído
lágrimas De
seguida a escada íngreme
da despedida
Hoje, platão olha para uma jarra e observa seca
a orquídea azul daquele dia
Todas as tardes olha o céu quando está escuro
Pelo chão lágrimas abraçam-se
sábado, 17 de janeiro de 2009
fora-de-mercado - editores
morta que está a poesia vive e ressoa como acto e facto de resistência o poema Em cada caractere fluem antiquíssimos toques de sino vindos das torres mais altas lugares aonde só as aves nidificam e tudo vêem como um olho gigante no centro de um triângulo de ouro Cada face do triângulo é uma afiada lâmina de combate se o olho tudo vê cada ângulo cada vértice corta-nos as horas em finas passagens de medo e sobressalto Aí onde ninguém chega nem mesmo aqueles que sendo humanos voam esconde-se o poema e do poema nascem as águias reais que só alguns vencedores podem ver Nas noites fundas o poema ressurge como um relâmpago seco sem som mas com uma intensa e profícua vibração de odores sabores olhares tactos e paladares Dá-se então o encontro inefável com tudo o que está para além da vida dos vivos e da morte dos mortos Em cada caractere o sol brilha no seu meridiano somos então meninos doces envoltos numa tristeza que só a infância conhece Imaginam-se histórias contos romances encantados reais e proféticos O poema torna-se um sangue escuro junto à terra perto do mar sob o céu ao levar do vento De todos os ventos Uma rosa crucificada Sim o poema é o acto e facto de ainda se poder ser resistente e vitorioso Vêm-me agora à memória humanos de amor que em cadeia nos ligam a um infindável caminho in-verso hélder fiama cesariny caeiro de outras eras viegas só no seu único nome mário camões perdido num oceano alheio num poema atlântico e salomão o velho e cansado elefante que um dia um rei português decidiu oferecer a outro rei de um país frio caminhando em passos curtos de amarradas patas por correntes De outros cantos mário dionísio eduarda em antes que a noite venha álvaro lapa de pinturas escritas post-mortem carlos de oliveira sophia al berto variações de antónio Lá nas torres sineiras as águias nidificam os poemas que hão-de entregar quando o dia nascer Godard de vivre sa vie visconti de uma morte de cal em veneza Antes da palavra final estaremos vivos Caídos por terra sim mas vivos resistindo e vencendo Todos nós que viemos de longe Que vamos para longe aí onde nos vamos encontrar.
segunda-feira, 5 de janeiro de 2009
Contos.5
longe longe longe
muito longe
: o frio – platão de sobre
tudo
trancado à cama dormiu
longa longa longa
mente
Platão dormiu e a meio do sonho mais duro
uma gaivota do tejo
, aproximada aos vidros da janela,
batia com o bico nos vidros
enquanto uivava – frio frio frio
platão não acordava
e ainda assim a gaivota uivava
Só de noite –
mal despertou –
platão reparou que na transparência
da janela um fio de sangue secara
A gaivota?
Sócrates?
domingo, 4 de janeiro de 2009
Contos.4
dançaram
leves e de olhos postos
em pequenos objectos do palácio
Foram subindo escadas
numa conversa secreta e
de vez
em
quando
dando as mão sustendo a vontade
de dançar mais alto:
lá, no tecto esculpido, onde espíritos
dormem Sim
, naquele palácio são os espíritos que
guiam Espíritos com vozes claríssimas
E
, no centro da dança,
na sala do toucador real
lá estava Ela a Rainha enlouquecida
de que ninguém cuidou Foi
quando pararam de dançar
, se juntaram de ombro a ombro
e a felicidade daquele momento
ficou guardada no relicário dourado
onde já ninguém
entra
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