quarta-feira, 24 de dezembro de 2008
Contos.3
24 de Dezembro de 2008
ainda lhe suavam
as mãos de subir ofegante a escada do prédio
quando descobriu que um grande gato amarelo
tinha, sorrateiro, entrado pela porta a cozinha
Travou-se ali,
então,
uma longa conversa entre
platão e o gato Platão
, assustado, pedia ao animal
que abandonasse a casa
o animal pedia a platão estadia
Levaram uns quinze minutos nisto
até que pelo cansaço o gato desistiu
e saiu
, agora rapidamente,
pela frincha aberta por onde tinha entrado
Á tarde
platão tentou dormir
mas aqueles felinos olhos cinzentos assombravam-lhe
as horas de descanso – afinal podia ter ficado
com ele, ao menos esta noite
Voltou à porta
podia ser que sócrates ainda por lá estivesse
mas não, nem um rasto nas escadas traseiras
Voltado à cama
platão sentiu um frio de remorso
Acendeu a luz da mesa-de-cabeceira
e pôs-se a escrever
contando o encontro que tinha desprezado
Finalmente um ser tinha vindo ao seu encontro
e ele por impulso recusou-o
Porquê?
Porquê
Desenhou um gato no caderno
e pôs-lhe cores e patas grandes
Desolado
, numa última linha,
escreveu:
«hoje, nesta minha casa encontrei-me com sócrates
com medo afugentei-o Nada a fazer»
terça-feira, 23 de dezembro de 2008
Centro Mário Dionísio - Ano Novo Vida Nova

domingo, 21 de dezembro de 2008
Contos.2
Platão deitava-se
Insone
Olhos postos no tecto
pelo corpo só os indispensáveis movimentos À
sua direita uma telefonia
e cigarros acumulados num mínimo cinzeiro
Platão ficava noites seguidas assim:
a ouvir, concentrado, os ruídos da rua
: homens do lixo
: cães ladrando ao longe
: um ou outro gato rosnando em briga
Por vezes
, uma vizinha gritava com o marido
Não
Para platão as noites nunca eram iguais
simplesmente nunca tinha sido ensinado a adormecer
No telheiro da janela
quando uma família de pombos
despertava, platão sabia
que chegara o momento de se erguer
apanhado na emboscada de um sol que nasce
de uma lua que se deixa apagar
Já levantado seguia para mais um dia
Dias de coração demasiado lento
preso à vontade de à noite voltar
e
insone
se deitar
sábado, 20 de dezembro de 2008
Contos.1
quando metia a chave à porta
e recebia no rosto a
chuva
da escuridão de um vento de espaço vazio
Platão sentia uma tontura
vinda dos pés até lhe tomar a cabeça
(assim como na guerra o inimigo toma em prisão
o amigo desconhecido)
Com medo
Sem coragem
platão avançava Primeiro
com o pé esquerdo, depois,
arrastando a perna
, o direito, fazendo bater
os
calcanhares Ficava em esquadro já dentro do apartamento
Fechada a porta demorava-se
uns
segundos no escuro Afinal era a magia
possível para os seus dias
Então acendia a vela
, via iluminar-se o corredor
e voltava a si – só –
e com cuidado pendurava o sobretudo
num cabide idoso junto a um relógio de pêndulo
quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
terça-feira, 9 de dezembro de 2008
poemas dispersos
presta atenção aos teus passos
sente como as mãos te podem salvar
olha uma última vez o sol no seu meridiano
escolhe uma planta que te acompanhe
Escreve
, Escreve muito
– Escreve tanto
...........quanto
................puderes
e depois dorme um silêncio profundo
acolhedor e maternal
sentindo a terra a percorrer-te a pele
quando acordares verás a lua a ocidente
crescente e alva Abraça-a
se o fizeres repararás como ela é pequena
e carente: um corpo inanimado reflectindo a luz
Uma Vez Mais Presta Atenção Aos Teus Passos
observa como há tanto tempo caminhas em círculo
dá agora um passo ao lado na tua marcha
saído do redondo caminhar Abre a porta
para outro teu encantar
Nada há a perder Nada para encontrar
só Luz e
, talvez, por sorte, por desígnio
um pássaro para te guiar
Subscrever:
Mensagens (Atom)